Nos últimos anos a hipnose clínica ou a hipnoterapia vem sendo cada vez mais requisitada pelos meios científicos e académicos como um importante instrumento de estudo e auxílio à Medicina, à Psicologia e à Odontologia. A sua credibilização científica deve-se ao avanço tecnológico e científico das últimas décadas que permitiu o estudo dos mecanismos neuropsicofisiológicos da hipnose, e à celeridade e eficácia na resolução de casos com sucesso. A literatura científica produzida nas últimas décadas é disso testemunha.
O que é a hipnose?
A hipnose consiste na aplicação de técnicas hipnóticas que servem de ferramentas terapêuticas. Deste modo, é utilizada como auxílio para o tratamento de perturbações mentais e físicas, assim como na correção de hábitos e tratamento de adições, distúrbios de sono e pensamentos e sentimentos indesejáveis.
A aplicação das técnicas hipnóticas deve ser feita por profissional de saúde credenciado e visa ampliar o estado de consciência do indivíduo, recorrendo à concentração focada e ao relaxamento induzido. Durante o processo, o sujeito vai adquirindo uma nova forma de olhar para si mesmo, potenciando o próprio processo de mudança.
Sendo assim, porque o conhecimento clínico se alia à subjetividade do paciente, a hipnose não pode ser considerada como um sistema de cura mas antes como uma ferramenta terapêutica que promove um estado modificado de consciência.
Como funciona a hipnose?
A mente consciente está relacionada com o córtex pré-frontal, sendo responsável pelas decisões e escolhas conscientes, procurando um comportamento adaptado à nossa realidade social. Por seu lado, a mente inconsciente é instintiva e tem a função de regular a fisiologia para a manutenção da nossa sobrevivência, sendo responsável pelas reações automáticas de defesa, como a descarga de adrenalina em resposta a ameaças. Dela dependem o sistema nervoso autónomo e o sistema imunitário.
Por fim, a mente subconsciente, quando nascemos, assemelha-se a um computador novo, uma estrutura pronta à produção de dados. E é aqui que tudo acontece: aqui vive a pessoa real e a sua essência. A memória de longo prazo regista as experiências da vida e armazena-as neste banco de dados ilimitado e, também, os hábitos desenvolvidos pela repetição, classificados de bons ou maus e as emoções associadas a cada evento. Ao longo da vida o indivíduo vai acumulando experiências, traumas e vivências que dão origem a programas mentais que orientam o seu comportamento e que condicionam o modo como vê o mundo e a si próprio. Alguns desses programas mentais conduzem à autopreservação mas nem sempre são os ideais. Por exemplo, se numa primeira experiência de exposição a pessoa sente medo ou ameaça, numa próxima situação similar no decorrer da vida, a sua mente subconsciente vai emitir um alerta de perigo que conduzirá de imediato a uma emoção que a vai impedir de se expor.
Na prática, a eficácia da hipnoterapia consiste em “fintar” o fator crítico da mente consciente, para aceder às memórias e emoções que geraram programações mentais que comprometem a funcionalidade e o bem-estar do sujeito. Isto ocorre durante a sessão através de dessensibilização, ressignificação e psicoeducação.
O estado hipnótico atingido durante as sessões permite aceder e quebrar crenças limitantes e alterar programações mentais comprometedoras e, por consequência, mudar comportamentos. Este estado modificado de consciência conjuga emoção, perceção, visualização, imaginação e memória possibilitando o acesso ao subconsciente, no qual se encontram os hábitos e memórias de longo prazo que as pessoas não conseguem controlar no nível consciente.
Entre as técnicas hipnóticas utilizadas encontram-se sugestões de comportamentos mais saudáveis com vista à criação de novos padrões mentais.
Em que situações pode aplicar-se a hipnose?
No que toca à Psicologia, que é o que importa aqui destacar, esta abordagem permite diminuir níveis de stresse e ansiedade, tratar fobias e sintomas da perturbação de pânico, largar vícios, emagrecer e até reduzir dores que resultam de doenças como a fibromialgia.