A doença de Alzheimer é uma patologia do foro neurológico classificada como um transtorno mental e comportamental, que se trata da forma mais comum de demência, representando entre 50% a 70% de todos os casos desta doença. Em Portugal, existem mais de 182.000 pessoas com demência, o que representa 1,71% da população portuguesa.
Com o decorrer do tempo, as células nervosas do cérebro vão sofrendo uma redução de tamanho e número e, surge uma deterioração global, progressiva e irreversível no funcionamento cognitivo (memória, compreensão, cálculo, capacidade de aprendizagem, concentração, linguagem, pensamento), bem como no funcionamento motor, emocional e comportamental, afetando várias funções ou capacidades, que influenciam a rotina diária.
Embora existam fatores de risco impossíveis de alterar (idade e genética), muitos outros podem ser modificados e reeducados, como é o caso do consumo excessivo de álcool, da inatividade física e da alimentação desequilibrada que, consequentemente, levam a outros problemas de saúde (obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares).
Com a progressão da doença, aumenta o risco de desnutrição proteico-energética e surgem défices nutricionais, nomeadamente de vitaminas A, C, D, E, K, B12, B6, ácido fólico, selénio e ácidos gordos ómega 3. Nestes casos, ainda não existe evidência científica suficiente que confirme a suplementação destes micronutrientes no tratamento da doença, sendo apenas recomendado que as doses diárias recomendadas sejam atingidas.
Deste modo, adotar um padrão alimentar saudável, praticar exercício físico com regularidade e dormir cerca de 7 a 8 horas por noite, parece ser a melhor estratégia para a prevenção e/ou progressão da doença de Alzheimer:
– Consumir fruta e hortícolas ricos em antioxidantes, diariamente;
– Preferir o consumo de gorduras insaturadas em detrimento das gorduras saturadas, diminuindo o consumo de carnes vermelhas e processadas, por exemplo;
– Aumentar a ingestão de peixe, principalmente de peixes gordos;
– Ingerir, pelo menos, cerca de 1 a 1,5L de água por dia;
– Consumir frutos oleaginosos;
– Dar preferência aos óleos vegetais;
– Limitar o consumo de alimentos ricos em cobre e alumínio;
– Incluir as leguminosas e os cereais integrais na alimentação;
Moderar o consumo de álcool.
No decorrer da instalação desta patologia, a alimentação é uma necessidade humana básica que pode vir a ser afetada, uma vez que surgem alterações na mastigação, problemas de deglutição (que podem levar a aspirações de alimentos nos pulmões), falta de apetite e, consequente, perda de peso.
Esta falta de apetite poderá surgir devido a problemas orais (próteses dentárias inadequadas e/ou falta de dentes); ao hipotálamo (responsável pelo apetite) se tornar disfuncional; a alterações na visão, no olfato e no paladar e/ou boca seca, tornando a comida menos apetitosa e a deglutição mais difícil; a algumas doenças crónicas e alguns medicamentos; à perda de memória e orientação no tempo, esquecendo-se de cozinhar e de se alimentar; à frequência de ambientes novos e não familiares (agitação e confusão); a distrações durante a refeição (barulho e muita confusão); a alimentos pouco atrativos, repetição de pratos e maus odores; e, à prática inadequada do cuidador (pressão, exigência e irritabilidade).
Por outro lado, é bastante comum o doente queixar-se que tem vontade de comer em intervalos curtos e/ou em grande quantidade, devido à perda de memória, à falta de orientação temporal e a alterações de saciedade. Importa salientar que o ganho de peso acarreta outros riscos para a saúde e a ingestão excessiva de alimentos pode causar desconfortos abdominais.
No tratamento da doença de Alzheimer, é fundamental a intervenção de uma equipa multidisciplinar que assegure o bem-estar físico do doente, sem esquecer o papel essencial do cuidador no dia-a-dia dos doentes. Aqui, o nutricionista tem como principais funções avaliar o risco e/ou estado nutricional dos doentes e adaptar a dieta segundo a sua consistência, tendo em conta que cada caso deve ser tratado de forma individual, principalmente porque os problemas alimentares são temporários e podem mudar à medida que a doença se agrava.
Adaptado de:
– Correia, A. et al. (2005). Nutrição e Doença de Alzheimer. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Lisboa.
Carina Ferreira (Nutricionista 2984N)
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